30.12.06

POEMAS DA RECONSTRUÇÃO

Menção honrosa na categoria de texto
do concurso "O Teatro na Década"
edição de 1996
Edição: CPAI
Abril de 1996
300 exemplares
44 páginas
Depósito Legal: 99744/96
ISBN: 972-95745-2-9

27.12.06

GREGO TRÁGICO CÓMICO AMERICANO

É só preciso acreditar que a mosca me virá à mão, p’ra comer ou não. “Que faço aqui?, pergunto. E é uma pergunta. Aborrecimento. Será a nudez uma coisa fria? Sei muito bem o que estou a fazer aqui. Tudo depende do tamanho da morte. Eu não estou aqui.


Bater no invisível é uma história com milhares de anos. Treinos. Planos. Agora que me procuro e me encontro e não sei quem sou e sei. Ergue-se o meu punho esquerdo e logo o outro o segue, cego, mas não sei como seguir a direito. É verdade. Um ruído. Sangue, talvez? Um líquido invisível, sozinho, afinal branco. Eu. Por dentro. É possível que consiga.

Há um problema qualquer com um barco. Um medo. Um rio. O mar sempre me disse tudo o que eu queria ouvir. Um jogo, a frio. Um promontório: o vento sopra, não há mais nada senão uma música de orquestra grande e uma capa de vampiro toda aberta. Nesse instante de ser rei, quase acredito que aqui é outro sítio, realmente. Claro que há gente, ao longe. Claro que é um filme. Adoro-o.


Ainda bem que não tenho chapéu, ainda bem que isto segue. Agora é o momento dos óleos sagrados, mas nada vejo, ainda bem. Agora estou descalço e há um sol só para mim. Um concurso. A pulsação vai a cento e quarenta, uma rapariga diz-me: “aguenta”, eu sei que vocês vivem para a competição, mas eu não. Se agora a tartaruga perguntasse: “vou muito atrasada?”, talvez lhe respondesses nada. E é isso.

26.12.06

SERENIDADE NATURALIDADE PEQUENO CINEMA

Naturalmente, tudo são pedras, brisas, pequenos ruídos quase inaudíveis. Naturalmente, o pó acumula-se com muita calma nos sítios mais incríveis. Estamos numa casa. É possível. É desejável. É natural. O homem diz: “eu sou eu”. O homem pergunta: “sou eu eu?” Naturalmente, nada lhe é dito. E ele escuta. Ele está a olhar.



Se estivesse a representar, se pretendesse ser outro perante os outros, talvez fosse desconfortável este silêncio, de súbito a encher-se de tambores, sons que ele não escuta, que escuta mas não ouve, que ouve mas não é. Há um sol, há um tempo sereno de licor e cachimbo, há um caminho de pequenas flores amarelas. Um caminho de luz.


Pólen e aço, madeira polida, paredes, fibras, e todos à espera do acontecimento, que ninguém sabe qual poderá ser. Uma breve comichão, uma gota de água por dentro do nariz, uma certeza de arquitectura e de cor, tecido e pele, uma mão que se move, e é isso que acontece. Pois que mais poderia ser?


Qualquer voz que agora se erguesse, qualquer palavra quebraria o feitiço. Diz quem sabe que tudo está no olhar. Quem sabe mais ainda nada diz. O tempo é coisa dos espíritos. O escuro é apenas o escuro. Descansem, meus amigos: imaginem um rio, uma pintura, um grupo de homens e mulheres nus a dançar à volta de uma fogueira. Espero que estejam bem sentados.

25.12.06

PÊNDULO TOURO CANDELABRO RUA

Supõe-se um pirilampo num laboratório, um traço de almíscar no tecido, um mapa de temperaturas variáveis, um desejo de ascensão em gás raro, uma espécie de espada luminosa, um desenho de matemáticas puras no chão flutuante e no quadro negro ou verde em pó.


Um degrau é um passo oblíquo, uma mão cinco dedos acesos, cigarros, o suor uma bebida intersticial, e subentende-se algum fumo, alguma ausência de exactidão, um jogo saudavelmente perverso entre as maravilhosas máquinas e os maravilhosos seres que as criam e usam. Subentendem-se as evidências, ó segurança vã, ó partículas velhíssimas da história das coisas.

Sublime violência sublimada em canto, em ritmo mecânico, sexualidade religiosa monumental, cinza que se atira ao ar e retorna em pó de oiro e diamantes, ombros nus, laços, rendas, rezes, uma corrida que escorre como gelo num fogão, e no forno estamos a cozinhar uma surpresa.


Controle, descontrole, concentrado de beleza em frasquinhos, agora será um pirata na sala do rei a saltar da varanda para o candeeiro grande no tecto, agora será uma coisa de animais ofegante como a morte, agora será uma espécie de memória com jazz ao fundo, cetim, relógios e contra-luz na janela, agora é alguém que vai rua fora, montado num dragão.

24.12.06

INVERSO VAMPIRO CRIME DECISÃO

Neste teste é perfeitamente admissível o “talvez”. “Sim” a norte e “não” a sul, ou vice-versa, não é, de facto, dente que alguém queira que lhe doa. Outra coisa que também é perfeitamente clara é que um poeta tem sempre uma bicicleta. Assim, quando na hora certa o homem regressa à incerteza do ser em que acordou, pela manhã, só lhe resta a triangular hipótese da experimentação. O empírico “talvez” chamar-se-á inspiração.


Nos cantos, nada será cinzento. Já a mãe dele lhe dizia que ou é preto ou é branco. Claro que ela vivia muito afastada do mundo real. Claro que teremos de ir mais longe: uma namorada que o espera, sentada numa mota, a ler o resumo do código da estrada, e um certo desejo de que o seu odor fique naqueles tecidos caros sem razão. Claro que tudo isto é mentira.

A verdade: é de manhã, ou de noite, não interessa, e esse tipo esquisito, por força do destino, que o fez pequeno-burguês, tem de sair, à procura de vítimas. Se lhe perguntarem: “o que é o sangue?”, ele responderá: “não tens nada a ver com isso”. Tudo isto é muito estranho, não acham? Mas o mais estranho será quando, ao defrontar-se com a luz do dia, ele ler na primeira página do jornal que os mineiros estão a morrer com cancro no pulmão, enquanto os donos das empresas têm carros de luxo.


Rotina, a esquerda é a direita, e aí vai uma rapariguinha com laçarotes no cabelo à procura de um coelho que fala. Ninguém acredita. Esperemos que não toque o telefone. Talvez um pouco de brilhantina. Talvez um bigodinho. Esperemos que não toquem à campainha. Talvez uns óculos escuros. Mesmo que não a tenha, um poeta deve ter sempre uma bicicleta. Sim, uns óculos escuros são fundamentais.

22.12.06

MARGUERITA REINO TRABALHO UNIVERSO

[LOANA]
Loas à filha do pirata, quinze anos que eu tinha, em formato de bolso, loas ao decote, à toa o que posso, ouro, prata, o sangue de uma galinha...

[SHILOM]
O meu aquecedor a óleo só falha quando falha o meu pulmão. O meu aquecedor decidiu que a noite era o espaço certo para o meu coração...

[CALCÁRICO]
A letra U. A letra ÉSSE. 50% não serve para nada. O tempo e os vulcões têm uma linguagem própria que, felizmente, ninguém entende...

[FELINX]
A infância é um crime, e você é um intelectual: atenção a esse barro, a essa cola, a esse linóleo, você não seja intelectual, já que não tem mãos...

[VARA]
O cheiro a eucalipto é uma aventura, a tua mão em sangue é uma vitória, a tua orelha em sangue é um prazer, obedeces-me ou não?...

[BRANCO]
Índios e giz, uma régua com cinquenta centímetros, azeite na linha da vida, a vida por um cabelo, o cabelo no tempo em que não havia amaciador...

[CINEMA]
A aparição sempre no momento exacto, professor, espero não ser suspeito, e esse botão p’ra que serve? PIM PAM PUM, ganhámos!, a sua assistente tem um belo peito...

[AAAAH!]
Hora H, adesivo, verão, escaramuça, conspiração: alguém precisa de mais? A água a subir, o submarino, o livro, aquela hipótese dos pares de animais...

[CINZENTANIA]
Pneus p’ra que vos quero, ó peixes mortos à tona d’água, tubarões voadores em velocidade lenta, bocados de espanto, pescadores à linha...

[CONFUSO]
Um homem tem de ter um emprego e um futuro, ou pode ter as duas coisas e serem só uma, mas é triste, ele é mecânico de automóveis e agora está num escritório...

[ALFA]
O ómega não o alcanço, nem tenho de alcançar, pois que ninguém o conhece: eles dizem que é o princípio, que é um talismã, que é tanta coisa...

[GROSA]
A água dos rios, a água dos mares, a água das chuvas, a água das rochas, a terra é só uma, o fogo dos homens, o fogo dos céus, o fogo dos dragões, o ar preso e o ar livre...

[TREZE]
Não sei porquê, o contrário também não, onde quer que esteja sou quem sou, até quando durmo e sonho que nada é fácil nem difícil, é qualquer coisa de...

21.12.06

GUITARRA VOZ BATERIA CONTRABAIXO

Estou a ver um saco cheio de lixo. E quando vejo uma cama, há por baixo uma caixa preta que tem lá dentro um mistério que eu não sei. Este é um momento de cordas soltas e vibrações organizadas, ou então a vida é simplesmente um jogo de bastidores obscuros onde um rapaz de sessenta anos chora a mulher que já morreu.


A guitarra é a anfetamina preferida. O que a toca não existe mas é a vida, entre chouriços e caldo verde e rapazes e raparigas vestidos de negro, electricidade, e que se lixe. Mal eles sabem que no momento em que se colocam na sanita sou eu que controlo, noite após noite, os seus medos mais ridículos.

Há o perfume dos frascos, como por certo já foi dito, mais o perfume das madeiras, mas disso ninguém sabe nada. Há ainda os momentos de chegar e de partir, o primeiro sempre em festa, o segundo sempre adiado para o dia seguinte. Há também o que se diz, mas isso já não se diz, não é?


Ele teve um sonho: era uma circunstância por certo invulgar, como são as de todos os sonhos, mas é facto que havia um palco, e então ele cantava, nota a nota, a melodia mais aguda e mais suave da sua vida. Ajoelhado, puro, vivo, e nada o impedia de chegar aí, onde era uma festa solitária. Ninguém o estava a ouvir, e também isso era feliz.

19.12.06

PESSOAS ÍNDIA ILHA ANALFABETO

Este poema não fui eu, não fui eu, se quiserem prender alguém prendam o meu primo que cria vacas. Estas palavras já as vi num dicionário mas não assim, não por mim nem por ti, é que há quem não entenda e polícias. Eu procuro, tenho medo, vou longe mas nada sei.


Um poema, como diz o meu amigo que voa até à lua, é sempre verde. E um poema usa sempre gravata e brilhantina, que está uma dama naquela varanda pronta para ouvi-lo. Não sei como é que ela é capaz. O pai dá nome a todas as moedas que tem, e a mãe só dança nua uma vez por ano. O problema do poema é poder ser apenas engano.

O homem, o gato, o cão, todos os animais procuram entender o estranho poder dessas palavras que correm como leite no tempo lento das vacas e dos seus filhos. Nós nada alcançamos, nada somos, as palavras é que vão além e nos levam, por acaso.


Cores: as cores significam. Os números significam. O ritmo é uma coisa de metrónomos simultâneos, cada qual em seu andamento, como uma multidão. Creio que já falei da voz mas ainda não disse o principal: não há palavra sem a magia de quem a diz. Creio que nunca li um livro.

18.12.06

NAVIO ESCREVENTE GIN SOL

O homem diz-se nada inspirado. O dono da ilha do tesouro é agora um vendedor de cera, para os momentos difíceis. A rapariga que está a cantar não entende nada do que sofro, e o outro, o que toca guitarra, está limitado pelo espaço-tempo da canção. Por quem os sinos dobram. Por Ulisses, o estrangeiro.


Um estrangeiro em Creta. Com uma rapariga, claro. Santuário. Irei cuspir-vos sobre os túmulos, num imenso adeus. O homem recorda aquele momento da cobra gigante e da jangada, mas isso já não conta, pois que os seus amigos vão ser enforcados, e agora ele já não tem tempo para dar a volta ao mundo em oitenta dias em balão.

A melhor mentira é a que é mais bem contada. Olha este: esteve na China, na Indochina, sabe tudo dos aviões que bombardeavam a pobre rapaziada antifascista, em Espanha, em 39. Nós, os que moramos à beira-Tejo, quando queremos contar da nossa glória, temos de nos lembrar daqueles anos tão longínquos que já não são nossos, impostos, telemóvel, jornal das oito.


Também há uma hipótese de banda desenhada na noite terna. Há um acaso de passagem por aqui, e depois um rio negro. Há um cansaço da infância e da juventude, aventura é adormecer. No escuro, os anónimos escrevem cartas em que prometem voos para cidades onde há casinos e muitas ruas. A única chatice é a lentidão. A lentidão é a única vantagem.

17.12.06

CASUAL BALÃO ÁGUA BONECO

Álcool, tintura, eis a minha ferida descoberta numa sanita. Afinal o que eu sou é um vulcão, uma explosão a quem ninguém explora a expressão sexual, o natural, a existência de ocasião conforme a terra se manifesta no seu acaso, no seu ocaso de estrela frustrada, eis a minha ferida: vida.


Um litro de saliva num balão, e o meu nome misterioso nunca to disse. Posso é falar-te de Clarisse, a rapariga que entendia as formigas, e até mesmo de uma pequena gota de esperma afogado em stress, como dizem os jornais, que a fertilidade é outra espécie de tinta, como a dos chocos com salsa e pimenta.

Gosto. Gosto disto. Gosto deste vazio, deste cheio em que nos tocamos de ocasião, agora um gesto, agora uma mão, e ninguém entende nada, porque para eles tudo isto tem pelo meio trabalho e bares e copos altos com bebidas azuis. Claro que tem. Claro que tem aviões, também. Claro que não.


Contenção suave do orgasmo possível, amostragem do invisível, passeio no zoo, olá, um breve odor a folhas secas, e a maravilha de não saber explicar. Toda a blusa tem seios por baixo. Chove ou não chove, é simples. Agora estou de lado. Tu avanças um pé. Nada disto tem mistério senão no instante em que acontece, e nada mais.

15.12.06

MATINAS COMBATE PROBLEMA CERTEZA

A água e a vodka e o gin. A manhã e a tarde e a noite. O azeite à tona d’água parece vento com cuecas. Cuecas! (Sim, sim, entendo). Quem passa e procura a primeira página procura não entender a primeira página, circunstancialmente. Mas é impossível: o assassino mais horrível da semana vai gravar um disco. Experimentemos falar com o assassino. Afinal, os jornais sujam os dedos.


O que me apetecia mesmo era um croissant mesmo francês, mesmo com manteiga, mesmo quente. E se não fosse um croissant era mesmo uma torrada, medianamente torrada, mas a pingar manteiga, e estudantes, seis, na mesa do fundo, a falar da escola, tão engraçados, tão atinados, tão surpreendentes, dois inteligentes.

Este momento em que fumo é solene. Já tentei o cachimbo, mas não tinha tempo. Já tentei os charutos, mas de manhã é complicado. Um cigarrinho e obrigado. O WC espera-me. O papel higiénico espera-me. Sou sem culpa. Depois, mais aliviado, a roupa que me fica melhor é a castanha. Logo hoje, azar, que me sinto azul. Faltam-me é umas luvas. Verdes. Sim, eu sei, estou a brincar. Brincar é o melhor que há. Afinal, o rapaz não sabe quem é. (É um problema).


Estou ensonado. Estou com tusa. Tusa do mijo, dizem. A chuva que vai cair não me pertence, juro. Ao longe nota-se a Arábia, mas ninguém paga a conta. O meu copo está vazio, o que me satisfaz. Dá-me um cigarro, se fazes favor. Sabes bem que eu não fumo.

14.12.06

FARDO JOGO POSIÇÃO FUGA

O meu nome é James. James Blonde. Sou vendedor de automóveis. É o melhor disfarce. De facto, sou um traficante de cocaína. As mulheres amam-me o meu carro especialmente concebido para as minhas arriscadas missões. Sim, é verdade, sou agenciado por sir ***. Penso que daqui a cinco anos ele já será de quatro estrelas.


Claro que sou vendedor de automóveis. Compro-os todos em Bruxelas e na Alemanha. E também sou dentista, nas horas vagas. A minha assistente tem trinta e cinco anos e um curriculum irrepreensível no que respeita ao consumo de psicotrópicos. Ela sabe do que estamos a a falar. É um dom natural.

Não, não fui eu. Foi aquele filho da puta do chinês que tem um restaurante e que factura uma nota preta. Quando eu for grande e for chinês vou montar um restaurante vietnamita com carne de cão e miolos de macacos chineses e que ninguém me lixe, não, não fui eu. (Entendo perfeitamente a filha da putice desse tipo, ah ah ah).


Se eu ganhar seis por cento e os meus empregados três por cento, então eu só ganho três por cento, o que quer dizer que eu ganho tanto como os meus empregados. Assim, se eu ganhar sete por cento, já não há crise, e por isso o tipo da caneta que conhece umas prostitutas ali na estrada nacional dez já pode fazer um bom negócio com a venda de preservativos sem furos. Ele não vai ser cliente delas, mas gosta disto, e é simpático.

13.12.06

SINFONIA PLÁSTICO BIGODE ESTÁTUA

A minha orelha esquerda é minha, e está dito. O meu agente deu-me um carro turbo qualquer coisa mais um apartamento cheio de janelas. Estou no 13º andar, a minha modelo preferida é japonesa e a minha namorada diz, enquanto bebe cerveja: “vamos fazer amor”.


É como acaba e é como começa. As crianças, senhor, as crianças... Se eu fosse, de facto, anormal, só fazia riscos. (Eu pinto. Estou louco). Farto-me de rir dos que precisam de modelos: no fim, o que eles fazem é orgias com as raparigas e os rapazes que passam o tempo nus, como se fosse Junho ou Julho. E se for Agosto? Quem é que se despe?


Blá, blá, não mexas no meu copo, o teu pai é dos bombeiros, desculpa, desculpa, eu nunca serei capaz de escrever essa história. (Acreditam que uma pulga me mordeu?) E as crianças, senhor... OK, desisto: o spray tem uma distribuição de material-pigmento que me agrada: branco, branco, branco, branco.


Os turistas não são culpados. As cataratas não páram. Ninguém sabe em que ano estamos. Trinta e cinco milímetros. Muitas cores. O nome das coisas. Um café, agora. Em resumo: nada te impressiona. És um porco. Ou seja: és a Europa. Parabéns. (Eu sabia).

12.12.06

VINHO CERVEJA CAFÉ BRANDY

Não. Sim. Talvez. Depois. Ele: “sinto-me um pouco assustado”. Ela: “eu compreendo”. Outro: “estou cansado disto”. O repórter: “sucesso”.


WC. TV. Colher. Cabelo. Cotovelos. Cama. Nuvens. Cigarros. Porta. Pestanas. Joelhos. Pés. Joelhos e pés e até orelhas. Podem ser momentos eróticos ou intelectuais de grande significado transcendental. Lume. (Papá).

Ao longe, um navio telecomandado. Próximo, um território onde se seca bacalhau. Mais próximo ainda, um microscópio infantil, uma tabuada e um condutor de camiões TIR, amante hipotético de uma mulata acidental. Um carro branco. Uma rodada de cerveja. Imperceptível. Um problema de rimas. Lixo.


Lixo. Um problema de rimas. Dois mil. Olfacto e barba. Incompreensível. Raspar a alma na pele. Inglaterra. Um duplo que salta e sobrevive. Um trapezista que salta e sobrevive. Uma falta de jeito para poemas.